Poesias: As diversas formas de manifestação artística

texto – luis bogo ,escritor, poeta e colunista .

Legenda: Tinta, pena e papel para desenhar palavras, a matéria prima do poema/Crédito da foto: Depositphotos

A palavra poesia tem origem no grego poiesis, que significa criar, manifestar-se artisticamente, não apenas através da palavra, mas também na escultura, pintura, música e dança.

Quando surge ou apresenta-se em forma de verso é chamada poema, embora um texto literário escrito em prosa também possa conter elementos poéticos, suscitando pensamentos e lembranças que nos sensibilizem e nos transportem a outros lugares, a outras dimensões.

Poesia é tudo que comove, sensibiliza e provoca sentimentos: seja na sala escura do cinema; ao som da orquestra no teatro; no velho disco de vinil; no silêncio dos quadros das galerias e museus – que apenas gritam formas e cores; na leitura silenciosa antes de adormecer.

É antes de tudo possibilidade: de viajar pelas entrelinhas dos versos, penetrar a paisagem pincelada na tela, interagir com seus personagens, com outras realidades e sonhos. A beleza poética implica numa harmonia de cores, palavras ou formas que nos movam em direção a sentimentos inéditos; ou então, numa desarmonia proposital de formas e cores que seja capaz de nos tornar calados, apenas sentindo o impacto do que não se pode traduzir pela boca, apenas capturar com os olhos.

Poesia é tudo o que nos desfragmenta por um instante, nos despetala o coração, para que brotem novas emoções que se traduzam em riso ou lágrima.

Na literatura, a poesia se revela ao se imaginar tão longe irão cavalgar as palavras colocadas nos cabrestos das primeiras linhas. E para escrever um poema é preciso enxergar a poesia, que pode se apresentar no voo da borboleta ou no fazer do “Operário em Construção”, como ensinou Vinicius: “Era ele que erguia casas // Onde antes só havia chão. // Como um pássaro sem asas // Ele subia com as casas // Que lhe brotavam da mão”.

Talvez a leitura de um poema nos faça viajar para cidade que conheceremos apenas como “uma fotografia na parede”, mas que certamente se gravará em nós como um lugar repleto de sentimentos, de afetos e sofrimentos, como a Itabira que Drummond confessou: “A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, // vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.//
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte, // é doce lembrança itabirana”.

Quando Fernando Pessoa escreveu “O poeta é um fingidor // finge tão completamente // que chega a fingir que é dor // a …” não se revelou mentiroso, mas afirmou ser capaz de se transformar em seus próprios sentimentos, em se transformar na “dor que deveras sente”, possibilitando-lhe uma forma peculiar e exclusiva de expressão.

Enfim, as poesias deste mundo podem percebidas das mais diversas maneiras, se estivermos com os nossos sentidos atentos.

Podem ser notadas nas cores vibrantes e calorosas das telas do impressionismo, nos versos efusivos de Walt Whitmann ou na emocionante e melancólica “Vitrines”, de Chico Buarque, onde o poeta lamenta: “Passas sem ver teu vigia, // catando a poesia // que entornas no chão…”

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