Aulas de música são ferramentas de transformação social Através de projeto, Teatro Carlos Gomes democratiza acesso a estudo da arte e proporciona novas oportunidades

Além dos benefícios cientificamente comprovados, como fortalecer a memória, acalmar a mente, estimular a criatividade e promover o bem-estar, a música tem o poder de transformar vidas. Principalmente dos jovens. O contato com a música desde cedo incentiva a socialização, desperta a afetividade e a sensibilidade, aumenta a empatia e aprimora a forma de se expressar.

Ana Betina Plautz é professora de Violino e coordenadora do Grupo de Cordas do Teatro Carlos Gomes, e acompanha de perto a evolução dos alunos e as mudanças trazidas com a música. Um exemplo vem justamente do acompanhamento do Grupo, que conta com adolescentes e jovens que iniciaram a prática em 2015, ano da primeira formação. “Neste período, pude observar o crescimento dos jovens através da música, a evolução em seus instrumentos musicais, a criação de fortes laços de amizade, o aumento do comprometimento, o incentivo mútuo e também como aprenderam a respeitar opiniões e gostos distintos”.

Para ela, a música é capaz de inspirar e unir os jovens, independentemente do estilo. “O jovem se relaciona com a música por diversas razões, como construção de identidade, liberação de emoções, busca por inspiração, autoexpressão, sensação de pertencimento a um grupo entre outras”, explica. Por esta razão, acredita que o aprendizado musical é tão fascinante e transformador. “Muitas vezes é difícil explicar a importância da música porque ela emociona, acima de tudo. A música é uma das mais antigas e poderosas formas de expressão da humanidade. Defini-la vai muito além de explicações teóricas ou conceitos técnicos, é preciso sentir”, complementa Ana.

São os resultados observados nestes anos que motivam a professora a continuar este trabalho tão importante de manter a cultura das cordas friccionadas, incentivando novos jovens a entrarem no universo da musicalização e, quem sabe, até se tornarem profissionais. Quatro integrantes do grupo já decidiram seguir no meio musical: dois deles estão se preparando para ingressar na universidade e dois já estão cursando licenciatura em Música.

Esse é o caso de Nadine de Jesus Gabriel, inclusive. Nascida em uma família de músicos, foi incentivada a fazer uma aula experimental de Violino aos 9 anos. Logo que entrou em contato com o instrumento, teve uma conexão especial. Como ninguém mais na família tocava Violino atualmente, achou também que era uma oportunidade de resgatar essa tradição. Por dois anos, ela fez aulas particulares, até que, em 2014, entrou no Grupo de Cordas. “Minha professora na época era a Roseli Weingartner e ela disse que eu estava em uma idade boa para integrar o grupo e que também seria uma excelente oportunidade para crescer como musicista”, conta Nadine.

E foi! Há oito anos no grupo, em 2019 recebeu o convite para fazer parte também da orquestra da Universidade Regional de Blumenau (FURB). “Neste momento tive mais certeza ainda que queria continuar na música pro resto da vida”. Hoje ela é bolsista da orquestra e cursa o terceiro semestre de Música na mesma instituição. Ela já atua como professora de musicalização infantil em uma escola e pretende continuar na área de docência. “Quem sabe mais pra frente ser professora em creches da Prefeitura também”.

 

Disciplina, foco e determinação

Doutor em Música e diretor pedagógico da Escola de Música do Teatro Carlos Gomes e do Projeto Cultura Viva, Roberto Fabiano Rossbach, também se encanta com o desenvolvimento dos alunos. Como teve seu primeiro contato com a música ainda na infância, sabe da importância desses primeiros passos e reconhece que a música promove o autoconhecimento, amplia o entendimento e muda a forma de ver o mundo.

Ele iniciou seus estudos de instrumento e participou ativamente da prática musical em grupo na Igreja Luterana. “A igreja é um espaço informal e não-formal de aprendizado musical, visto que somos inseridos na prática de conjunto e nas performances públicas das celebrações muito cedo, o que exige do estudante de música muito empenho individual em vista de sua integração ao conjunto”.

Foi a partir das experiências vivenciadas ao longo de sua infância e adolescência, que Roberto se sentiu motivado a buscar a profissionalização neste segmento, já sabendo do empenho que a área de música exige. “Nesse processo, compreendi ainda que é extremamente importante a formação continuada, seja nas habilidades musicais ou docentes, buscando manter uma disciplina de estudo musical e de fundamentação teórica, que no meu caso se configurou na área da regência coral e orquestral, na prática de música antiga ao cravo e órgão e na pesquisa acadêmica em nível de mestrado e doutorado, na área da Musicologia”.

Sim. Quem decide se dedicar à música precisa estabelecer rotinas diárias de estudo prático e teórico, o que envolve muito foco, concentração, determinação, enfrentamento de desafios e superação. E essa dedicação traz benefícios que são levados por toda a vida.

Marion Bubeck, vice-presidente de Marketing do Teatro Carlos Gomes, relembra sua trajetória pessoal e confirma que a música foi um divisor de águas. “A música abriu muitas portas, através dela conheci pessoas e lugares muito especiais. Ela realmente derrubou muitas barreiras, diminuiu distâncias e me deu inúmeras possibilidades, tanto o âmbito profissional quanto no pessoal”.

 

Um palco para novos talentos

O Teatro Carlos Gomes é conhecido por fomentar a cultura e a arte no Vale do Itajaí. E por ser palco de diversos eventos e espetáculos culturais, já revelou inúmeros talentos. Com o Projeto Cultura Viva 2022, que faz parte do Programa de Incentivo à Cultura (PIC), do Governo de Santa Catarina, e conta com o apoio da Altenburg, Blumenau Iluminação, Cartondruck, Cooper, DCondor Distribuidora, Dicave, Karsten e Rede Top, a vocação do Teatro se expandiu e colaborou ainda mais para a democratização da cultura a partir da oferta de ensino musical gratuito e de excelência.

O projeto disponibilizou 50 bolsas de estudos integrais para alunos de baixa renda e de alto rendimento, permitindo o contato dos estudantes com professores especializados. As aulas começaram em novembro de 2022 e serão retomadas em fevereiro deste ano. No total, os alunos terão aulas individuais por 10 meses, e de prática de conjunto por 5 meses. Dessa forma, incentivando a prática musical, novas histórias transformadoras serão escritas.

 

FONTE :

Oficina das Palavras:

Olívia Bueno

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