Dom Evaristo Spengler chama atenção para a migração do povo venezuelano

Amazônia foi tema da Coletiva de Imprensa nesta segunda-feira (24), sexto dia da 60ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e que elegeu o religioso gasparense dom Jaime Spengler o novo presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). A coletiva sobre a Amazônia teve a presença de outro religioso gasparense, dom Evaristo Spengler, primo de dom Jaime, que é bispo de Roraima (RR), presidente da Repam-Brasil e presidente da Comissão Especial para o Enfrentamento ao Tráfico Humano da CNBB. Dom Evaristo falou, juntamente com outro “porta-voz” da Igreja no bioma da Amazônia, o arcebispo de Manaus (AM), cardeal dom  Leonardo Steiner, que preside a Comissão Especial para a Amazônia junto à CNBB.

Dom Evaristo apresentou a Igreja da Amazônia, desde sua experiência na prelazia de Marajó e na diocese de Roraima. Nestas duas regiões, experimentou e experimenta uma Igreja muito viva, com grande religiosidade popular, onde a vida de fé perpassa todas as ações no dia a dia do povo. Em sua fala, ele explicou como estão sendo desenvolvidas a Laudato Si’´ e “Amazônia sem Fome”, campanhas que “transbordam do coração do Papa Francisco”.

O bispo também chamou a atenção para a realidade dos migrantes venezuelanos, uma realidade que aumenta a cada ano, com uma média de entrada de 500 pessoas por dia no país. Dom Evaristo destacou ainda a ação da Igreja de Roraima com os migrantes. “A Igreja tem se colocado muito ao serviço”, insistiu, mostrando números do que a Igreja local faz na alimentação e ajuda jurídica aos migrantes.

O cardeal Leonardo Steiner afirmou que a Amazônia “não é só água e floresta”. Ele destacou o fato de o povo ser extremamente acolhedor, com uma religiosidade muito profunda e um ritmo de vida marcado pelas águas. Apontou também as dificuldades pelas quais passa a Amazônia, citando como exemplo o avanço do garimpo responsável pela tragédia do povo Yanomami. Situação que também se repete no Pará, com o povo Munduruku, gravemente atingido pelo mercúrio.

O cardeal citou também o desmatamento, que é muito grande, com regiões onde não têm mais mata; a pesca predatória e o assassinato do jornalista inglês Dom Philips e do indigenista Bruno Pereira, mortos por ajudar os indígenas a defender seus direitos.

O cardeal Steiner ressaltou que a agressão à questão indígena foi muito forte nos últimos anos, contraditoriamente durante a gestão de um presidente da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) contrário aos povos indígenas. Dom Leonardo lembrou de sua visita ao povo Yanomami, quando levou “a palavra de conforto do Papa Francisco e da presidência da CNBB”, dizendo ter ficado estarrecido com as acusações que os indígenas faziam.

O cardeal enfatizou as palavras de um casal, quando disse: “estamos perdendo a nossa alma, a nossa espiritualidade”, algo que o bispo definiu como perder as motivações para existir e para estar vivo. Ele destacou a importância do Ministério dos Povos Indígenas e da FUNAI, dirigidos por duas indígenas.

Dom Leonardo ressaltou a união estre os bispos na Amazônia e a grande presença dos leigos e leigas na missão de evangelizar. Junto com isso destacou ainda a grande solidariedade: “nunca vi tanta solidariedade na minha vida como em Manaus no tempo da pandemia”. Só na arquidiocese de Manaus, ele informou que foram atendidas mais de 100 mil pessoas, uma amostra, de acordo com ele, do “espírito de solidariedade que existe em nosso povo”.

Dom Leonardo enfatizou que “o Santo Padre sempre mostrou um carinho muito grande pela Amazônia”, como algo que está no seu coração, destacando que, em sua avaliação, a criação de um cardeal da Amazônia é um modo dele expressar a sua proximidade com toda a Amazônia e o povo de lá. O Papa, segundo o cardeal, está preocupado pela depredação do bioma. “Ele está pensando na humanidade, ele está pensando na Mãe Terra”, disse. O arcebispo de Manaus destacou ainda que o Sumo  Pontífice tem um carinho pelo modo de ser Igreja na Amazônia, com o protagonismo dos leigos e as pequenas comunidades.

Em relação à presença da Eucaristia nas comunidades da Amazônia, disse pensar que é necessário dar passos em algumas direções. Isso numa Igreja que é missionária, citando o exemplo da arquidiocese de Manaus, onde depois da Assembleia Sinodal está se preparando “leigos e leigas em cada comunidade para levar a Palavra de Deus nas casas”. Ele falou de processos que geram mudanças, de repensar a formação nos seminários com padres ao serviço das comunidades. O cardeal questionou até que ponto é justo que muitas comunidades na Amazônia só tenham acesso à Eucaristia duas vezes por ano quando este sacramento é o centro da vida cristã.  Algumas comunidades, segundo dom Evaristo, têm acesso à Eucaristia apenas uma vez por ano.

Em relação às Igrejas Irmãs destacou a dimensão missionária do projeto e a existência de missionários e missionárias que doam sua vida na Amazônia, mas também apontou a falta de voluntários para a missão das igrejas de outras regiões do país. Junto com isso, relatou ainda a difícil situação do garimpo na Terra Yanomami e a destruição que este está provocando na floresta e na vida dos indígenas, sendo muitos deles cooptados pelo garimpeiros. Igualmente denunciou a situação do alcoolismo, exploração e abuso sexual na região. Segundo o cardeal, a Igreja na Amazônia é chamada a se somar num caminho que os indígenas estão realizando.

 

FONTE  : JORNAL METAS 

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